Apenas observe...

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Por Sócrates Guedes

sábado, 14 de abril de 2012

Viagem para Delírio

Sei que sou um ser de sangue frio, hirto, junto à morada doentia d'minha'lma.
Julgo, sem saber se vejo o fio da lâmina que me leva e me atravessa.
Chego a lugares imemoriais das vizinhanças do meu ego, cego e inadimissível.
Prego nas paredes da morada quadros retratando as fantasias, euforias e algo mais.
Mas recuso-me a acreditar que não haja outro lugar para me esconder... De quê? Do quê? De quem? Não digo, nem ouso proferir um amém. Que assim não seja.
Talvez deseje o que alguem, em algum dia, num esquecido lugar, deseja.
Talvez almeje o que, em algum esquecimento inaldível, tenha alcançando meus ouvidos.
Talvez, em algum dos multiplos significados do saber, não haja mais tal coisa.
Nã aja, não exista, não, em mim, insista, nem abra seu receptáculo inescrupuloso para mim, pára em mim... Sustenta minha dor, ou a mentira que enfeita esta parte dolorida...
Saber o que dói é inconstante. Saber se sois vóis é uma dúvida dilacerante.
Saber se não sei, se não há dor, nem sujeito delirante é o que move meus anseios, ao passo de escanteio, para o canto, para o pranto, para o medo e para a sorte...
Digo mais... Para à morte.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Sete dias de dores, sabores e afins

I

Um recém formado amado, mas nem tanto, casal passeia angustiantemente querendo desfrutar de suas tão menos prazerosas conversas (ou ausência das mesmas), quando na falta do que dizer palavras doces, que mantenha acesa o que chamam de chama da paixão, um resolve falar:

- Não me permitisses dizer o que queria dizer quando queria dizer.

- Por não haver necessidade, ora!

- Quem lhe disse que não havia?

- Meu bom senso.

- O que têm este senso que não me permite dizer o que quero quando quero dizer?

- Podes passar um minuto sem fazer perguntas desnecessárias?

- Necessito das respostas, ainda mais que venham da sua verdade.

- Não quero que faça estas perguntas, me irritam.

- Estais a restringir-me novamente! Detesto quando fazes isso.

- E a mim é detestável quando assumes este papel de dramaturgo de esquina!

- Detesto quando me detestas.

- AAAAHR!! - Murmurava, voltando o rosto para rua onde passavam poucos.

- Detesto quando não declaras que me detesta, mesmo eu sabendo que assim é verdade.

- O que fiz para ter que ouvir isso?

- Ignorasse a mim e ao que venho tentando dizer.

- Você não tinha nada a dizer, caso contrário o teria feito.

- Como? Sua expressão me cala.

- Esse é seu medo de falar o que não deve, eu o conheço para saber o que vais falar.

- Não!

- Não o quê? O que tem errado no que te disse?

- Quero tempo para pensar...

- E desde quando precisas de minha autorização para ter esse tempo?

- Falo de nós.

- ...

Por motivos desconhecidos a ambos, um silêncio os toma por inteiro restando apenas olhares confusos e mal direcionados. Temerosos em descobrirem a razão do que os mantêm calados permanecem desta forma até que o vento volte a soprar.

- ...

- Bem... Também quero este tempo.

- Até breve então.

- Quem sabe ...

Separam-se sem observar a direção que o outro tomara, mesmo estando infestados pelo querer saber se ainda há algo a falar, a expressar. Tentam assim evitarem o que continuadamente tem feito desta nova relação um fardo muito pesado para ser arrastado pelas ruas desconhecidas da vida.

Ao tempo que lhes fora concebido, pensamentos sobre querer permanecer sobrepunham o desejo de minimizar conflitos, evitar diálogos carregados de violência sentimental, provocados, muito provavelmente, por falta de atenção no que carece numa relação. Pensamentos que, mesmo brevemente, fortaleciam o que eles tinham a pouco recebido: um ao outro. Pessoas deveras opostas, se por um lado muito semelhantes no querer ser gostado e chamar isso de amor ou qualquer outra definição melodramática.

Se por outro a forma como demonstrar esse desejo, única, que o diga, singular. Enquanto um busca desfrutar sentimentos em sua totalidade, sem restrições verbais, faciais, motoras, o outro se mantêm reservado ao que deseja sentir ou ao que anseia em proporcionar, com poucas manifestações de carinho, mas que são, suficientemente, percebidas e adoradas.


II

Há medida que os dias vazios iam chegando, passando despercebidamente vagarosos, os pensamentos assumiam uma forma mentalmente textual e futuramente dita, não da mesma maneira como fora construído em suas singularidades, mas moldados para que possa racionalizar a relação, fornecer um breve “por que estamos juntos?”, que dure, ao menos, até o próximo encontro desgovernado. Decidem encontrarem-se e exprimir os textos mentais.

- Olá?

- Oi...

- Fiz do meu tempo bom proveito, e quero dizer-te o que tenho pensado.

- Começas a falar então.

- Fizeste do teu tempo o mesmo?

- Queres que eu faça uma retrospectiva do que tenho feito ou desfeito?

- Não... Quero saber se... Esquece.

- Vais falar ou não?

- Sim.

- Então...

- Noto que nos tornamos distantes por não saber o que dizer, realmente, do nosso gostar. Quero você e permaneço querendo, mesmo depois de nossas desavenças. Sei que não sou o parceiro perfeito, mas venho tentando achar formas de te proporcionar o motivo do próximo beijo, do próximo telefonema, do abraço forte que me sacia. Venho tentando buscar em você meus próprios motivos para permanecer nisto, decerto que os encontro, mas são poucos e fertilizam, em mim, perguntas...

- Que perguntas?

- “Devo mesmo gastar o que chamo de sentimento nesta pessoa?” “Será que no que tenho com ela, terei o que dizem ser a felicidade?” Coisas...

- Também tenho pensado nisso. Vejo que podemos, nem saber, se virá o que nos falta, se vale mesmo o que você chamou de gasto nisto que temos.

- Seria melhor se acabássemos com o motivo destas perguntas?

- Talvez... Não tenho essa certeza.

- O que faremos disto? O que escolheremos para nós?

- Não sei. Achas que devemos continuar regando isso?

- Acho, digo, devemos tentar. Caso contrário as perguntas continuarão a vir e com elas nosso desencontro.

Um silêncio com entrelaçar de olhares carentes se faz para ambos. Aproximam suas faces, vagarosamente, para o que parece ser uma reconciliação.

- ...

- Vem cá...

Apesar das constantes nuances do relacionamento de Julia Alcântara Moura Neves da Alcunha Sá, menina pacata, meiga e simpática, a contragosto da explosiva maioria de pessoas que a conhecem no seu âmbito familiar, com Tenório Maurício Fabrício Eurico Fagundes Pessôa das Falanges Pereira, garoto humilde, simples e de gostos bastante comuns, ainda a contragosto das mesmas pessoas que compartilham momentos felizes e agradáveis como família de Julia (somado as milhares de outras pessoas que não suportariam sequer um expirar do próprio), havia de haver, no mesmo sentido dos que buscam no saber o motivo de qualquer que fosse o gostar, uma pausa nas discussões e desprazeres mundanos que permeavam no cotidiano do casal. Era nesse momento em questão que os dois apreciavam o silencio propiciado por não menos que o encontro de seus lábios, acompanhado pela respiração exaltada, ansiosa pelo contato da carne, da suavidade com que se acaricia a face, do abraçar mais forte contra qualquer estrutura sólida, do querer percorrer as vias simbólicas que se desenham sobre a pele, do salientar, vagarosamente, o desejo de cobrir o outro saboreando as despercebidas indeliquências do prazer. E é neste ritmo que o jovem casal aproveita a reconciliação pelo breve final de tarde, seguido de alguns momentos longos da noite e um pedaço da madrugada, até adormecerem pela saciedade da carne.

...

(Por enquanto, isso é tudo pessoal!)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Comparação ao ensino

19/06/2006

Como um livro, a vida têm páginas a serem passadas, capítulos a serem lidos, hstórias a serem contadas e críticos, que por sua suas críticas, a serem, por tal motivo, punidos. Além de sua consistência externa, baseada em outras páginas, outros capítulos, outras histórias e, também, claro por evidência, óbvio, críticos de gerações passadas, porém, presentes...
Como este por exemplo, que por sua objetividade não possui razão em permanecer escrito... Mas a vida, assim como um livro, só têm um fim ao se perceber que não há mais coisa alguma a ser escrita, ou seja, se não há um fim não há juízo e portanto esta sem lógica. Lógica?
Lógica em quê? Lógica porquê? Ta ai uma boa pergunta... Uma? Duas talvez...
Só quem sabe é quem escreve, ou ao menos dita.


Dedicada a minha cara amiga ThuannyMaryna

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Em desalento com o desencanto

Em descompasso rítmico com o corpo, me contento em tê-lo, confortável para uns, intrigante para tantos, incomum para mim.
Em contentamento sórdido sobre mim, atenho minha visão para a carne que se aproxima, para à rima, do silóquio não verbalizado, da flexão do próximo não, meu singular fardo.
De como tenho tido o que me rodeia, atenho-me ao que realmente me pertence, a presença se esvái, emaranhando-se da maneira mais trivial possível a sua complexa simplicidade, não concordo com minha idade.
Ao retornar o que me devem (devem?) verifico seu estado, sua desarmonização ao acaso, caso, não hoje, mas quem sabe no proximo dia?
Observo que a incerteza que me rodeia, permeia, tudo o que antes havia construido, punido, mantenho-me ausente dos rodeios sem fundamento.
Poderia encerrar este ciclo de ausências em mim, dentro das raizes dos muitos lugares onde estive, vive, estranhamente escondido de minhas objeções.
Ao ter como objeto o material da minha mente, concluo está na mais interna furia, nas entranhas do que chamam amor, contente, em saber que nunca me considerei um ser ausente, ao próprio
desencanto, a simples face do pranto.

No entanto, nada tenho a dizer, escrevendo, que ao menor sinal de perigo, me escondo, mesmo na ausência do estrondo ou da minha própria, razão.