Apenas observe...

Apenas observe...
Por Sócrates Guedes

terça-feira, 5 de abril de 2011

Continuadas passadas

Em continuadas passadas que dei ao longo de minha pobre, faminta, degenerada e talvez (por que não?) triste vida, descobri que o mundo não passa de uma fonte de informações, onde os que podem moldar mandam, e os que não conseguem, nunca tentaram, e os sem o mínimo de capacidade de moldar, apenas ouvem e sentem as conseqüências do que virá. Isso me intrigou tanto quanto a resposta de uma pergunta feita com muita frequência quando estamos no estágio inicial do desenvolvimento social:

- “Como nasci?”.

Entretanto, por saber da verdade do mundo não tentei ser um “moldador da verdade”, e sim um transmissor da própria. Não me dei ao luxo de tentar descrever a existência ou algo de tamanha complexidade, mas algo que me fizesse ser... Algo que muitos sábios julgaram inconcebível, inimaginável, muito além da compreensão humana, como dizem os leigos. E por ser tão longínqua esta informação me perguntei infinitas vezes se tal coisa realmente existia, ou se era um levianismo de minha parte.

Levianismo ou não, teria que assumir a obrigação da continuidade da procedência de tal informação. Tantos com tanta fome, outros em eterno leito, mas todos ansiando por minhas palavras... Para alguns, carregadas de egoísmo, superioridade, prepotência; para outros a pura e amarga verdade. Pelo visto, não era lá grande espanto expresso nos rostos famintos, parecia que já tinham família com o problema. Dei meus textos recheados com minhas frases, compostas de minhas palavras. Palavras que eram tão aguardadas por poucos, a contragosto, e já entendida por muitos, ainda a contragosto. Sólidas eram, nas mãos de quem aceitava, em favos ficavam, nas mãos de quem desistia em ver.

É claro que em minhas feições estava estampada a humilhação. Por muito tempo mantive a crença de que era a minha verdade a única e completa salvação do leiguismo humano, da incapacidade de refletir e flexionar seus termos, de diminuir e ampliar seus alcances, de ser ou não ser. Aquilo que fora chamado de “O Pensamento” agora não se distanciava de mera especulação. Aquilo que me alimentava por horas seguidas na esperança de que num dia, neste dia em questão, a verdade tornar-se-ia de todos! Aquilo, a quilo, há um bolo...

Em contra ponto a minha explicita decepção, houve subitamente, um esclarecimento, prendendo-me a outra esperança, outra tentativa, outra realmente dita, opção. Estava tomando muito mais tempo do que tinha programado para solucionar. Ao tempo que tardio chegava, me torturava, e ao tempo que gozava de minhas tentativas, pensava... não em qualquer coisa, mas no Pensamento, afinal, era dele que devia extrair a verdade e assim emudecer os furiosos.

Lembro bem que isso já não me ocorria com freqüência, o pensar. Pensei por tantas vias, andei por tantas bifurcações entrando em infinitas vielas, mas ainda assim, o encontrei: O Pensamento. Devia tê-lo tirado a vida, minha insatisfação nunca esteve tão afiada, sedenta por sangue, sedenta por respostas. Exatamente onde o tinha o encontrado, deveria eu, tê-lo matado, mas não pude... De maneira nenhuma pude, no beco do inconsciente, alguém já o tinha feito.